sábado, 27 de novembro de 2010

Meu lado B

Às vezes posso ser pior que uma navalha. Perco a piedade. Sou nua e crua. E saiam da frente. Coitados dos meus ex-namorados... Eu era tão boazinha, até me transformar numa fera incontrolável. Infelizmente, as pessoas consideradas calmas são assim... Vão levando tudo na boa, até que o copo entorna. Com toda força, pior que um tsunami. Desculpa aí, como dizem. No fundo, sou mesmo um furacão. E saio de casa com o cachorro na cabeça, se precisar. Literalmente. Espero que meu filho me compreenda. E, do fundo do coração, me perdoe. A vida não é mole, não, meu pequeno.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Porque a vida é feita de ciclos

Aprendi com os maias algo que parece (e é) óbvio, mas nem sempre perceptível: a vida é feita de ciclos. Seja um dia, 28 dias para nós mulheres e lua, até voltas muito maiores por esse universo gigante. Às vezes tudo está sob nossos olhos, nos confirmando alguma certeza irrefutável, mas por alguma razão insistimos em não ver. Escutei hoje de meu pai um conselho simples (e talvez por isso tão sábio) que irá mudar a minha vida nos próximos anos - ou pelo menos me fazer acordar para um novo ciclo. Você não foi ainda? Era só isso o que eu precisava ouvir.

domingo, 29 de agosto de 2010

Angústia da separação

Aos oito meses de vida, todos nós, seres humanos, na sua forma mais fofa e pequena, já iniciamos um processo de angústia que irá se estender, normalmente, pela vida toda, até o último dos nossos dias. Chama-se angústia da separação, um fenômeno que acomete os bebês ao perceberem que seus corpinhos, quem diria, não fazem parte dos corpinhos das mamães. São pessoas diferentes, ora vejam. O fato é que ela não percebeu nenhum comportamento diferente no filho - estava esperando por dengos, choros sem propósito com o simples intuito de fazer charme ou mesmo algo difícil e dramático no dia a dia. Nada. Ele continuava o mesmo. Foi aí que ela se deu conta da independência do menino. Ele já não mamava mais seu leitinho, ficava à vontade na escola - até impondo resistência, certos dias, para voltar para casa -, ia com qualquer pessoa, comia bem, muito obrigado, sem sua mãe por perto. Então, ela resolveu marcar uma viagem. Ligou incansavelmente para a companhia aérea, todos os dias, para conseguir a bendita passagem na data que queria. Até que, como um milagre, conseguiu. Aquela felicidade durou apenas um instante até se voltar ao rostinho da cria. Sorrindo, como sempre. Como ela ficaria longe daquela criatura? Como iria suportar não vê-la? Como não iriam dormir sob o mesmo teto por dez longos dias? E se ele tivesse fome? E se ficasse doente? E se sentisse a falta dela, achando que nunca mais se veriam? E se chorasse sem encontrar consolo? E se???... Ela desesperou-se. Deu-se conta de que jamais viveria sem aquele corpinho pequeno e gordo. Ele, sim, era parte indissolúvel dela. E nada que se dissesse ao contrário faria sentido. Ela, então, chorou naquele dia. E percebeu que era ela quem sofria da angústia da separação.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um colo

Ela tinha inveja das amigas que se davam bem com suas mães. Simplesmente porque não encontrava naquele colo provável a calma que precisava. Ela não se lembra de ter deitado no colo da mãe. De ter chorado e sentido ali conforto. Ao contrário, a convivência era tensa. Não entendia por que sempre foi assim. E isso não mudaria. Ela tinha muita inveja das amigas que contavam da amizade com suas mães, como se isso fosse natural. Para ela, era uma batalha perdida. Agora que ela é mãe, entende um pouco das angústias da outra e é capaz de perdoá-la. Mas sabe o que não deve fazer. Então, quando a mãe diz pra deixar o filho chorando, que ele aprende, ela não aceita. Está lá com seu colo pronto, precisando o filho ou talvez nem tanto. Ela é como um general em vigília. A primeira regra que aprendeu é que não existe regra. Ela não vai deixar seu filho chorar para que ele aprenda sozinho. Nunca. Ela está ali para ensinar. Ou apenas para oferecer seu abrigo quente.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O amor (de novo)


Eu hoje acordei com vontade de casar. Vestir-me de branco, pintar o rosto suavemente, deixar o vento atrapalhar o penteado sob um pôr-do-sol romântico, enquanto nossos amigos ouvem as juras de amor eterno. Tudo de novo, como se fosse a primeira vez. Os olhos brilhariam da mesma forma ou talvez um pouco mais, porque agora nosso filho levaria as alianças. Sim, vale a pena fazermos economias para comprar os vinhos, adornar nossa festa com flores e celebrar o amor. Porque isso nunca será antiquado. Nunca será demais. Quantas vezes for preciso, vamos valorizar os momentos felizes. Porque a vida é feita deles. E só eles valem a pena, mesmo que durem pequenos instantes.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Por que gostamos de falar mal da ...

Há mais ou menos quinze anos falamos mal da ... É nossa diversão preferida nos encontros em botecos e agora mais frequentes nas nossas casas mesmo, com mamadeiras na mesa em vez de cerveja. Mas as risadas são as de sempre. É engraçado isso. Fico me perguntando se a ... é chata mesmo – e, definitivamente, ela é – ou o que nos motiva é uma necessidade de projetar em alguém nossa acidez cotidiana. Afinal, é coisa demais pra nossa cabeça. Alguém tem que ser o alvo da nossa ira. E, não, a culpa não é do Ruivo Hering. É da ... Há pouco tempo uma amiga fez uma constatação curiosa: todas as mulheres chatas estão casadas, enquanto um milhão de solteiras legais se engalfinha nas noites à disputa de um bom partido. Por que será que os homens gostam de mulheres como a ...? Bem, talvez porque elas devam ser muito piores como ex-mulher, então, é preferível manter o casamento. Sabe-se lá. É provável que a gente nunca encontre resposta pra essa nossa implicância e, daqui a quarenta anos, quando a gente se reunir nos bailes da terceira idade, ainda estaremos rindo da ...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O amor

É para você, meu amor, que digo
O amor é essencial
O resto pode faltar, tudo bem
Mas você não
Que feliz é o amor quando se está perto
E só.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Algumas verdades sobre ser mãe

- Você deixa de assistir ao Manhattan Connection. Seu programa favorito passa a ser Sinhá Moça;
- Você diz que não, mas no fundo se acha insubstituível para seu filho;
- Você para de usar perfume e unhas grandes;
- Sim, é verdade, você não dorme. Bem, de vez em quando, tem a sorte de dormir seis horas. Detalhe: interruptas;
- Você tem a sensação de que não terá vida própria mais. E não terá mesmo;
- Você entra na Zara e vai direto à seção infantil. Depois, dá uma olhadinha no resto;
- Você percebe que trabalhava pouco no seu emprego. Trabalho duro é o de casa, 24h por dia, sem feriado, férias e salário;
- Você descobre se o homem da sua vida é mesmo o homem da sua vida se ele é um bom pai;
- Você passa a selecionar as suas roupas pela facilidade de abrirem na frente;
- Você percebe que sua mãe deu um duro danado. E que demorou anos (anos e anos) para você valorizar isso;
- Você tem culpa de tudo: das tragédias mundiais, da corrupção no Brasil, do trânsito na cidade;
- Você passa a ser pontualíssima: de três em três horas, aconteça o que acontecer, seu filho tem que comer. E você é responsável por isso;
- Você vira um bagaço;
- Algum dia, uma sirigaita qualquer vai roubar seu filho e você vai sobrar;
- Sim, tudo terá valido a pena. E, quando seu filho finalmente agradecer, você vai sorrir e dizer, como se nada tivesse acontecido: foi um prazer. As mães realmente esquecem a peleja.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O palhaço


O palhaço chegou fazendo graça, ainda que não houvesse motivos para ele sorrir. Talvez seja um código da ética dos palhaços: fazer os outros sorrir, mesmo quando não se acha graça. Então, ele perguntou: que gosto tem a lágrima do palhaço? Doce? Tem gosto de água? Ela ficou pensando. Pobre palhaço. Era ele quem mais precisava sorrir. E percebeu que o palhaço chorava escondido na sua graça. Sua lágrima, sim, era doce. Porque tinha o gosto do sorriso. De graça.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Para lembrar sempre

Mesmo "quando as coisas ficam particularmente complicadas... A infância de seu filho é uma época extraordinária - assustadora, preciosa e absolutamente efêmera. Se você duvidar por um momento que um dia sentirá saudade dessa época doce e simples, converse com os pais de crianças maiores, que, sem dúvida, irão concordar: cuidar de um bebê é como um minúsculo pontinho no radar da sua vida - brilhante, nítido e (infelizmente) irrecuperável."

Da "amiga" Tracy Hogg, em Os segredos de uma encantadora de bebês.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Manifesto de uma mãe cansada que, sim, alimenta seu filho

Por favor, quando o bebê chorar, não diga que ele está com fome. É isso o que nós, pobres e exaustas mães, mais ouvimos. E, geralmente, depois de uma noite em claro. Modéstia à parte, acho que me tornei uma boa mãe. Em primeiro lugar, porque li toda a literatura possível sobre este assunto tão, digamos, peculiar. Em segundo, porque minha própria mãe, como sempre, me deixou completamente sozinha nesta aventura, para que eu me virasse. Às vezes, isso funciona. (Mas não compartilho esta técnica terrorista.) Bem, o fato é que o melhor aprendizado é a observação. Antes da ação. Amigas e amigos, um bebê tem horários. Isso inclui mamar. Se ele chora antes do seu horário de mamar, pode ser de fome, sim. Mas é preciso observar primeiro se há outra coisa o incomodando. Tentar entender a sua real necessidade, antes de partir para a medida mais comum - e errada: fazer a criança se calar com o leitinho. Quem faz isso - ou quem sugere isso - na realidade só quer se sentir melhor com o fim do choro do bebê. E não ajudá-lo de fato. Por favor, quando o bebê chorar, não digam que é de fome.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O amor não estava em Veneza

Ela ainda se lembrava da viagem à Europa. O olhar perdido na janela do trem. O choro silencioso. Depois da dúvida, a ida à Veneza. Sozinha. Ela foi sem saber o destino, sem a certeza de voltar. Mas voltou. Não encontrou por lá o remédio para o coração partido. Menos ainda um novo amor. Mesmo assim, achou tudo bonito. O ano passou. A dor curou. Então, ela entendeu que certas coisas requerem tempo. E viajou mais. Mesmo errando muitos caminhos. Um dia, o coração dela se acalmou. O amor não estava longe, mas bem ali na estrada do trabalho. Finalmente, ela não precisava ir mais. E viu que os papéis são desnecessários. Que as convenções são bobagens e não importa a ordem das coisas. Basta o amor. Inteiro. Imenso. De todo dia. Ela agora é feliz.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Brevidade

s.f. curta duração, pequena dimensão.
Justamente por ser breve, tão breve, a vida merece ser leve.

Imagem de Maria Tereza Correia, amiga e fotógrafa que registrou este instante fugaz de 2009. Que 2010 seja mais vagaroso, se possível. Ou, pelo menos, intenso na sua brevidade.