domingo, 29 de agosto de 2010

Angústia da separação

Aos oito meses de vida, todos nós, seres humanos, na sua forma mais fofa e pequena, já iniciamos um processo de angústia que irá se estender, normalmente, pela vida toda, até o último dos nossos dias. Chama-se angústia da separação, um fenômeno que acomete os bebês ao perceberem que seus corpinhos, quem diria, não fazem parte dos corpinhos das mamães. São pessoas diferentes, ora vejam. O fato é que ela não percebeu nenhum comportamento diferente no filho - estava esperando por dengos, choros sem propósito com o simples intuito de fazer charme ou mesmo algo difícil e dramático no dia a dia. Nada. Ele continuava o mesmo. Foi aí que ela se deu conta da independência do menino. Ele já não mamava mais seu leitinho, ficava à vontade na escola - até impondo resistência, certos dias, para voltar para casa -, ia com qualquer pessoa, comia bem, muito obrigado, sem sua mãe por perto. Então, ela resolveu marcar uma viagem. Ligou incansavelmente para a companhia aérea, todos os dias, para conseguir a bendita passagem na data que queria. Até que, como um milagre, conseguiu. Aquela felicidade durou apenas um instante até se voltar ao rostinho da cria. Sorrindo, como sempre. Como ela ficaria longe daquela criatura? Como iria suportar não vê-la? Como não iriam dormir sob o mesmo teto por dez longos dias? E se ele tivesse fome? E se ficasse doente? E se sentisse a falta dela, achando que nunca mais se veriam? E se chorasse sem encontrar consolo? E se???... Ela desesperou-se. Deu-se conta de que jamais viveria sem aquele corpinho pequeno e gordo. Ele, sim, era parte indissolúvel dela. E nada que se dissesse ao contrário faria sentido. Ela, então, chorou naquele dia. E percebeu que era ela quem sofria da angústia da separação.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um colo

Ela tinha inveja das amigas que se davam bem com suas mães. Simplesmente porque não encontrava naquele colo provável a calma que precisava. Ela não se lembra de ter deitado no colo da mãe. De ter chorado e sentido ali conforto. Ao contrário, a convivência era tensa. Não entendia por que sempre foi assim. E isso não mudaria. Ela tinha muita inveja das amigas que contavam da amizade com suas mães, como se isso fosse natural. Para ela, era uma batalha perdida. Agora que ela é mãe, entende um pouco das angústias da outra e é capaz de perdoá-la. Mas sabe o que não deve fazer. Então, quando a mãe diz pra deixar o filho chorando, que ele aprende, ela não aceita. Está lá com seu colo pronto, precisando o filho ou talvez nem tanto. Ela é como um general em vigília. A primeira regra que aprendeu é que não existe regra. Ela não vai deixar seu filho chorar para que ele aprenda sozinho. Nunca. Ela está ali para ensinar. Ou apenas para oferecer seu abrigo quente.