terça-feira, 29 de março de 2011

As asas e o mar (2)


Ela sentia vontade de sair batendo asas por aí. Fingir que era solteira, sem marido, sem filho, sem compromisso com o trabalho. Beber todas as cervejas e rir até cair no chão, de tanta graça que tem a vida. Ela sentia saudade de sua liberdade. E o coração doía. Ficava pensando quando novamente seria possível sair sem destino e data pra voltar, sem pensar em nada, sem explicar qualquer coisa. E assim ela fecha os olhos e dorme embalada pelo sonho de um mar azul, com um sorriso pegando ondas.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lembranças

E não foi à toa que ela lembrou-se das amigas que perderam o marido. Da amiga que fez um aborto e agora não podia ter filhos. Da amiga que não gosta de homens, talvez porque nunca os conheceu. Lembrou-se da ex-chefe que luta para ser mãe nas clínicas de inseminação. Lembrou-se do passado recente, das mesas de bar, do sono pesado e sem compromisso. Ela sabe que nunca mais dormirá como antes. Que mesmo fechando os olhos por oito horas seguidas, no fundo do seu pensamento e na parte maior do seu coração haverá um pequeno de olhos atentos clamando sua atenção. Mesmo com todo desassossego, ela agradece pela casa bagunçada, pelo marido que está longe, mas voltará, pelo amor que conheceu, pelo filho que gerou. Ela sabe que é privilegiada. E é feliz por isso.