sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Interioranas

As primas engordaram. Mas tinham casa, marido e filhos.
Nada era lá grandes coisas, mas coisas grandes o bastante para lhes preencher a vida.
A casa não precisava ser tão boa, afinal; bastava ser própria.
Nem o marido precisava ser o melhor; são todos iguais, já dizia a tia solteirona, só muda o endereço. E, além do mais, galã só existe na novela das oito. Melhor se conformar com a careca, o ronco desgraçado e a barriga de cerveja.
Já os filhos, ah, esses eram os mais espertos e bonitos do mundo. Pois eram seus.
E assim a vida corria. A segunda não tinha cara de segunda. Quem sabe parecida com um domingo à tarde? Mas, então, qual a graça de esperar pelo domingo à tarde?
As contas eram pagas da mesma forma; dava-se um jeito, Deus ajuda.
As viagens eram boas; no máximo, para levar as crianças ao zoológico na capital. Ou uma praia nas férias, se desse, no Espírito Santo. Pra que ir mais longe? Bobagem.
E os sonhos? Ah, pare com isso. Sonho é pra quem não tem o que fazer. Melhor se preocupar com as roupas pra passar.
Ops, a campainha tocou. Era a vizinha (que também engordou um pouco).

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